PROVA HERTZBERGER: ANÁLISE DO ESPAÇO DOMÉSTICO, DO QUARTO A RUA


A partir da leitura do livro “Lições de Arquitetura”, do arquiteto Herman Hertzberger, e das discussões feitas em aula, foi passada uma tarefa na qual teríamos que analisar o nosso espaço cotidiano, com base no que foi tratado no livro.

Ao começar a observar mais cuidadosamente a minha casa, um conceito que surgiu rapidamente foi o apresentando no primeiro capítulo “Público e Privado”. É importante ressaltar que, para Hertzberger, público é uma área acessível a todos a qualquer momento, sendo que a sua manutenção também é de reponsabilidade de todos. A palavra privado, por sua vez, assume a significação de uma área cujo acesso é determinado por um pequeno grupo ou por uma pessoa, que tem a responsabilidade de mantê-la.  Ao iniciar pelo meu quarto, percebi que ele detém um caráter mais privado, já que é o meu lugar pessoal, onde posso, com maior frequência, intensidade e liberdade, fazer modificações e personalizações. Além disso, é o principal espaço em que eu guardo as minhas coisas, tanto as que possuem mais valor afetivo quanto as que são apenas funcionais; independentemente das características de cada objeto, eu sou a responsável por cuidar de todos eles. O meu quarto me serve bem, acho que ele possui um tamanho ideal, mas não muito há muito lugar para grandes mudanças espaciais, como trocar a posição da cama, pois a maioria dos móveis estão fixos na parede. Já a sala de visita é um espaço de caráter mais público, uma vez que ela pode ser usada em qualquer momento do dia, por qualquer morador, sem que isso prejudique a privacidade dos demais. Aliás, mesmo que cada pessoa não consiga fazer tantas interferências, há uma identificação com o local e uma atmosfera de cuidado coletivo.   


As prateleiras e os nichos são lugares que posso colocar objetos que me representam e que me agradam!


Sala de visita.

Além disso, cabe destacar um outro cômodo que, na minha visão, transita um pouco entre os conceitos de público e de privado com maior frequência, em relação aos demais: a sala de TV. Dependendo do que alguém está assistindo e fazendo, ela pode se tornar mais ou menos privada e, até mesmo, mais ou menos receptiva. Por exemplo, quando a minha irmã assiste alguma série, ela passa a exercer um maior controle sobre tal espaço e o que ela assiste está diretamente ligado a uma preferência pessoal dela. Caso ela leve copos e pratos, ela passa a ser a única responsável pela organização de tal lugar. Assim como abordado no texto, o caráter público do quarto de TV passa a ser colocado, mesmo que momentaneamente, em questão, já que ela utilizou o espaço público de acordo com seus próprios interesses. Vale ressaltar que o conteúdo que é exibido pela TV, na minha opinião, também pode dar o tom para que o ambiente seja mais ou menos privado e receptivo.

No banheiro, compartilhado por mim e por minha irmã, há uma porta de correr que separa a pia dos demais elementos do banheiro. Tal porta exerce um papel relativo à capacidade para criar lugares, citada no capítulo “Lugar e Articulação”, uma vez que ela possibilita a utilização do espaço de uma forma mais eficiente, ao mesmo tempo em que mantem uma certa privacidade entre os seus usuários. Vale ressaltar que ele é usado por pessoas próximas e só é utilizado, de forma simultânea, quando há necessidade, já que é precisamente nessa situação que é possível aproveitar esse recurso implantado com o objetivo de maximar o uso do banheiro.





Ao partir para os demais cômodos da minha casa, um elemento aparece de uma forma recorrente: os tijolos de vidro. Eles foram utilizados de diversas maneiras, dentre as quais destacam-se a função de passagem de luz e, claro, de ampliação do campo de visão. Os utilizados na cozinha seguem as duas funções comentadas, sendo possível ver quem está do outro lado da parede; assim, acho que eles podem assemelhar-se ao uso do vidro que foi muito comentado no livro. No caso dos usados na escada, eles lembram um pouco a claraboia discutida no capítulo “Visão II”, já que ela, além ser uma interface com o meio externo, que informa as características do tempo, também permite a visualização de se há alguém no espaço exterior – ela está situada entre a escada e um deck. 

Há uma certa troca de luzes entre a escada e o interior da casa. Além disso, é possível ver quem está chegando pela porta.

Há uma certa troca de luzes entre a escada e o interior da casa. Além disso, é possível ver quem está chegando pela porta.

Tijolos na cozinha: ampliação do olhar.

Tijolos na segunda escada: visualização do ambiente exterior.

Tijolos na segunda escada: visualização do ambiente exterior.

    Na lavanderia, situada no terraço, os dois conjuntos de pilaretes de madeira foram utilizados para acrescentar um melhor fluxo de ar e de luz ao ambiente. Eles também permitem a visualização de quem está fora, na perspectiva de quem está dentro da lavanderia, bem como o inverso. Dessa maneira, há uma melhor transição entre um ambiente aberto e um fechado, facilitando e incentivando a interação daqueles que utilizam o espaço. 

Visão a partir da área externa.

Visão a partir da área interna.

    Ao partir para rua, um elemento espacial a poucos metros de minha casa chama a atenção de quem passa por ele: uma rotatória, ou “redondo”, como é chamado pelos moradores da região.  A sua função predefinida seria de uma rotatória, é claro, e de uma passagem mais rápida para os pedestres. Entretanto, com o passar do tempo, os moradores acharam novos jeitos de apropriarem-se do local, como para a realização de piqueniques, cantatas de natal, ensaios da escola de samba da rua ou simplesmente para colocar algumas mesas e cadeiras para conversar e para comer. Alguns desses tipos de apropriações acontecem durante diferentes momentos da semana e do ano, de forma que quase sempre o redondo seja “habitado”. Esse caráter polivalente está ligado ao que foi redigido no capítulo “Criando Espaço, Deixando Espaço”, já que tal espaço oferece uma oportunidade para uma variedade de usos que, ao meu ver, foram muito incentivados pela forma da rotatória (círculo), pela pequena arborização frutífera e não frutífera e pela leve elevação, se comparada ao nível da rua. Ao partir da hipótese de que nem todos os usos referidos tenham sido tão pensados, durante o planejamento e a construção, as pessoas passaram a identificar-se, de certa forma, com o local e a manifestar seus interesses nele; esse “movimento” de apropriação mútua foi exposto em “A Forma Como Instrumento”


É como se ele fosse uma pequena praça.

Os pés de árvores frutíferas também estimulam o cuidado e a preservação desse espaço.

Ao ampliar um pouco mais a análise, teci um breve comentário sobre o meu bairro. Moro no centro da cidade e, por isso, há um predomínio de prédios, lojas comercias, centros médicos, entre outros, tornando as ruas sempre movimentadas. Entretanto, mesmo com todo esse movimento, as pessoas não conseguem, de fato, apropriarem-se e interferir no local (principalmente nas ruas); as calçadas, na maioria das vezes, não são receptivas e não há incentivo real para que a população consiga atuar em tal espaço. Dessa maneira, os moradores buscam ir para as praças e para a avenida Beira Rio, uma vez que nessas há uma atmosfera que incentiva a população a ocupar e a manifestar sua personalidade, como no caso das feirinhas de final de semana, na utilização da avenida para a prática de exercícios físicos, na realização de pequenos aniversários/comemorações, entre outros. 

Avenida Getúlio Vargas, a "principal".

Avenida Beira Rio.



Comentários

  1. Trabalho bem completo, passa a impressão de que leu o livro e de que
    tem pleno conhecimento dos conceitos de Hertzberger, inclusive de alguns termos
    menos comuns. Seus exemplos são diversos e completos e ela consegue relacioná-los
    muito bem com os conceitos trazidos pelo autor. Ainda assim, não propôs nenhuma
    inovação no espaço. (Jade, Maria Luiza e Ana Julia).

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